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PECUÁRIA LEITEIRA EM ALTA FLORESTA: UM ESTUDO DAS DIFICULDADES DOS PEQUENOS PRODUTORES

SILVA, Deise Tramontin da
deise_5@hotmail.com
ALBERTI, Xerxes Ricardo
<xerxesricardo@hotmail.com>

 

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo buscar alternativas para incentivar os pecuaristas leiteiros de Alta Floresta, estado de Mato Grosso, a permanecerem no ramo, através de meios que aumentem a produtividade e reduzam os custos. A metodologia utilizada foi de revisão bibliográfica e estudo de campo, mediante aplicação de um questionário estruturado. Os resultados da pesquisa evidenciaram que, na sua maioria, os produtores veem como principal dificuldade da atividade os baixos preços pagos pelos laticínios e, por conta disso, acabam buscado outras fontes de renda dentro da propriedade. Apesar de todos os recursos disponíveis para a realização do manejo do gado leiteiro, grande parte dos pecuaristas não investem, ou quando investem, fazem em pequenas porcentagens, pois acreditam que os resultados obtidos não irão superar os gastos. Com o auxílio de métodos simples de contabilidade, pode-se chegar à conclusão de que quando há investimentos há também retornos significativos.

Palavras-chave: Contabilidade. Pecuaristas. Investimentos. Manejo.

 

1 INTRODUÇÃO

A atividade leiteira é uma das principais fontes de renda da cidade de Alta Floresta, estado de Mato Grosso, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Encontra-se entre um dos municípios com maior produção de leite do estado. Mas apesar destes indicadores mostrarem a importância da atividade na região, quando se conversa com os pecuaristas o cenário é outro. É comum se ouvir reclamações dos pequenos produtores quanto aos esforços necessários para se obter uma renda viável utilizando-se apenas da pecuária leiteira como fonte de renda. Há insatisfação também referente aos baixos preços pagos pelos laticínios e a instabilidade no valor.
Se Alta Floresta se encontra entre as cidades com maior produção de leite no estado de Mato Grosso, por que os pecuaristas estão insatisfeitos com os resultados da produção? Seriam os altos custos em investimentos ou a baixa rentabilidade? Com isso, surgiu a necessidade de identificar a viabilidade da atividade, referente a preços, mão de obra e investimentos necessários para que haja um maior desenvolvimento do setor.
O leite é tido como uma das mais importantes fontes de nutrientes na infância, quando é consumido na sua forma in-natura. É também utilizado na fabricação de iogurtes, queijos e requeijões, no preparo de massas doces e salgadas. Com o aumento da população, consequentemente há também um aumento no consumo, sendo necessário um aumento na produtividade. Este objetivo pode ser alcançado com a aquisição de novas matrizes nas propriedades ou aliado ao desenvolvimento da atividade, gerando assim maior produção.
Hoje no mercado estão disponíveis diversos meios para realização de manejo na pecuária leiteira, que vão desde o desenvolvimento genético e a opção de se obter sêmens secsados, com maior probabilidade de geração de embriões fêmea, reduzindo assim o descarte dos bezerros machos e aumentando o plantel, à suplementação na alimentação que pode ser produzida na própria fazenda.
Com os diversos recursos disponíveis, aliados às opções de redução de custos, a insatisfação dos produtores pode estar ligada aos baixos preços pagos pelos laticínios, à dificuldade na implantação de novas tecnologias ou à falta de informações a respeito de manejos utilizados na pecuária leiteira.
O objetivo deste trabalho é buscar alternativas para incentivar os pecuaristas a permanecerem no ramo, através de meios que aumentem a produtividade e reduzam os custos, bem como identificar as deficiências do setor e buscar alternativas para que sejam solucionadas. Apontar, ainda, possíveis métodos, pelo olhar das ciências contábeis, para incentivar o desenvolvimento da atividade no município.

2 EMBASAMENTO TEÓRICO

A pecuária leiteira, de acordo com Rubez (2003), surge no Brasil pelos colonizadores, que, por volta de 1532, trouxeram os primeiros bovinos para o país. Era uma atividade sem muitos incentivos e precária de desenvolvimento. Durante quase 500 anos, não houve grandes progressos que destacaram a atividade dos demais setores. A partir de 1980, o setor apresentou grande evolução devido a quatro ciclos de mudanças, em dez anos se viu a primeira grande progressão da atividade. O livre mercado onde o governo do Presidente Fernando Collor extingue o tabelamento do preço do leite no Brasil e abre o mercado para as exportações representa a autonomia por parte do produtor. O surgimento do leite longa vida acompanhado da conquista do mercado de trabalho pelas mulheres, que necessitavam de mais praticidade dentro de suas casas. A chegada dos caminhões com tanques resfriadores que possibilitaram um transporte mais seguro, visto que o leite é um alimento que estraga com facilidade, podendo assim ser transportado até as cooperativas com mais segurança.
No Mato Grosso a atividade agropecuária já faz parte da cultura das famílias rurais além de ser uma das principais fontes de renda da região. Alta Floresta, de acordo com censo agropecuário realizado em 2006 pelo IBGE, se encontra entre as sete cidades do Mato Grosso com maior produção de leite no ano. Na venda do leite se encontra entre as oito cidades do Estado com maior número de estabelecimentos agropecuários que venderam leite cru no ano.
O Brasil se encontra entre os maiores produtores de leite do mundo, mas sua produção ainda se encontra bastante pulverizada, depende da mão de obra familiar, onde representa a principal renda destas famílias. Dados do IBGE de 2006 mostram que os agricultores familiares representam 80% dos produtores rurais e que 80% destes agricultores familiares utilizam a atividade pecuária leiteira.
A pecuária bovina é dividida em dois segmentos, leite e corte. Para Crepaldi (2011, p. 221):

A produção de leite vem em primeiro lugar e depois as vendas dos bezerros, também chamado de "machos leiteiros" para recria e engorda como gado de corte. Só que esses animais não recebem nenhum tratamento especial, o que atrasa seu desenvolvimento e preparo como futuro "boi de corte". Em média, são necessários de quatro a cinco anos para se aprontar/terminar esse animal para o abate com 20 a 25 arrobas.
Crepaldi deixa claro que o leite nem sempre será o único produto comercializado pelas fazendas. Assim, com o nascimento dos bezerros, sempre haverá exemplares machos, por mais que sejam em menor número. Estes, por sua vez, vão para o descarte sendo vendidos logo após o desmame, ou, se houver desenvolvimento genético, ser vendido posteriormente como touro para reprodução.
Ao nascer, de acordo com conceitos de Marion (2010), existem três destinações possíveis para o bezerro macho: cria, recria e engorda. A cria refere-se à venda do bezerro logo após o desmame. Já quando se opta para a recria o bezerro é engordado até que se torne um novilho magro, entre 12 a 24 meses, e é vendido para engorda. A atividade de engorda refere-se à transformação do novilho magro em novilho gordo, para que assim possa ser vendido com 24 a 36 meses.
Uma unidade produtora de leite sempre terá o nascimento de representantes machos, estes podem ser destinados ao sistema integrado ou serem utilizados como reprodutores. Para Oliveira (2011, p. 58):
Caso o pecuarista trabalhe no sistema integrado (cria, recria e engorda), é recomendado separar os bezerros nascidos na propriedade que se destinem a serem futuros touros. A separação do rebanho é recomendada quando o animal atinge idade de cinco meses, o que ajudará na observação das características desejáveis para se tornar um bom produtor.
Quando o macho é alocado como reprodutor pode ser destinado a monta ou a extração de sêmen para venda. Segundo Crepaldi (2011), se a fazenda utilizar o sistema de monta, o touro pode permanecer todo o tempo com as vacas na proporção um touro para 20 vacas, esse valor pode variar de acordo com a raça utilizada.
O sistema de inseminação artificial consiste na introdução do sêmen na matriz durante o período do cio. Este sêmen pode ser adquirido de outras unidades produtoras ou retirado dos touros da própria fazenda. Marion (2010) mostra as vantagens de se utilizar este sistema.

Torna acessível aos criadores a utilização de machos de elite, cuja aquisição seria inviável, em virtude dos altos preços alcançados pelos méritos genéticos, dos riscos que possam correr em certas regiões inóspitas, das condições climatológicas pouco favoráveis; permite fecundar numero de fêmeas muitas vezes maior do que seria pela cobertura (monta) natural; permite restringir os riscos da disseminação de moléstias infecciosas, especialmente as do aparelho reprodutor; facilita o acasalamento de animais, cuja diferença de tamanho é muito acentuada, e a utilização de touros que se tornaram incapazes de realizar a cobertura. (MARION, 2010, p. 20)
A utilização da inseminação artificial tem vários benefícios. Pode-se optar por sêmens que possuem maior probabilidade de nascimento de fêmeas; Promover o desenvolvimento da genética com menor custo, pois assim não há a necessidade de se adquirir reprodutores de elite e Marion ainda cita o fato de que este sistema não permite que doenças se alastrem com facilidade.
A manutenção do rebanho com relação à alimentação é realizada por meio de pastagens. Marion (2011) observa que a boa manutenção da pastagem acarretará na melhoria da qualidade do gado. São dois os tipos de pastagens: naturais, que correspondem à vegetação nativa, normalmente estas áreas não são cultivadas e não apresentem grandes problemas de erosão; e artificiais, que são pastos com preparo de solo e cultivados com forragens.

Há algum tempo, a pastagem era considerada uma atividade extrativa (pastagem natural), sem merecer qualquer atenção especial do pecuarista. Atualmente, o pasto é considerado uma cultura; recebe todos os cuidados que a uma cultura são dispensados, como: preparo do solo, terraceamento, drenagem, adubação, plantio, corretivos etc. (pastagem artificial). (MARION, 2011, p. 9)
Para que se possa ter maiores resultados na alimentação do rebanho, é importante o cultivo do pasto adequado para cada região. Uma cultura adequada aliada à boa alimentação faz com que as vacas pastem menos, o que leva à menor perda de peso para se chegar ao alimento.
 O manejo do gado pode ser feito de três formas: sistema extensivo, semi-intensivo e intensivo. No sistema extensivo, o gado é mantido permanentemente em pastagens naturais, sem complemento na alimentação e acompanhamento zootécnico. O sistema semi-intensivo utiliza pastagens artificiais onde a área é dividida em piquetes e é realizada a rotação do gado entre eles permitindo repouso das pastagens. De acordo com Marion (2011), o sistema extensivo caracteriza-se por baixa lotação, variando de 0,4 a 0,8 unidade de animal/ha/ano, já no sistema semi-intensivo, a capacidade pode aumentar para até 4 unidades animal/ha/ano. Mas, dentre os três sistemas o mais vantajoso é o intensivo, pois neste alem da formação de pastagens artificiais e divisão do pasto em piquetes, facilitando o acompanhamento zootécnico, o gado ainda recebe alimentação suplementar.
A alimentação suplementar pode ser produzida na própria fazenda por meio do plantio de forragens que são plantados na época da chuva para serem utilizados na época de estiagem, não permitindo assim que o rebanho perca a produtividade, como é o exemplo do feno e da silagem.

Feno é a erva ceifada e seca, utilizada na alimentação dos animais, principalmente ruminantes. Possui uma composição variada, dependendo da espécie vegetal, da forrageira empregada – se gramínea ou leguminosa –, da natureza do solo, do clima, do estagio de desenvolvimento da planta e do processamento de secagem. (CREPALDI, 2011, p. 223)
A silagem constitui-se na ensilagem de forragens verdes, as mais utilizadas são milho e cana-de-açúcar, estas são comprimidas em trincheiras para que ocorra a fermentação e a formação de ácidos para a conservação.

A silagem exige baixos investimentos em instalações, podendo ser obtida a custo inferior, barateando a produção. Poderá ser dada ao rebanho durante todo o ano, além de permitir a manutenção de maior numero de cabeças de gado em uma área pequena de terra. (CREPALDI, 2011, p. 223)
Para que todas essas fases aconteçam é necessário que exista um planejamento rural, obedecendo principalmente ao princípio contábil da entidade onde os bens da empresa pertencem à empresa e os dos sócios aos sócios. Devido ao fato de as empresas rurais nem sempre serem estruturadas como pessoas jurídicas e seu patrimônio ser registrado em nome do proprietário ou dos sócios, há a necessidade de se desvincular os bens da unidade produtora dos da pessoa física. Mesmo sem o auxílio de um contador presente, se algum método for utilizado, facilitará a visualização dos resultados da unidade produtora e disponibilidade de investimento.

3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Área de Estudo

O estudo limitou-se a um grupo de vinte pecuaristas leiteiros de pequeno e médio porte localizados no município de Alta Floresta, sendo que com um deles foi realizada uma entrevista com visita à propriedade para conhecer a realidade deste ramo. O município de Alta Floresta localiza-se no extremo norte de Mato Grosso, distante 830 km de Cuiabá, capital do estado. O IBGE (2013) divulgou uma população de 49.761 habitantes.

3.2 Metodologia

O procedimento metodológico envolveu a revisão bibliográfica e de campo desenvolvida pelo método indutivo com observação das características da pecuária leiteira, com ênfase nos pecuaristas de pequeno e médio porte. As hipóteses formuladas foram testadas a partir do processo de inferência.
Foi considerado como universo os 20 (vinte) pecuaristas. Os indivíduos selecionados para fornecer as informações necessárias para conclusão deste trabalho foram os pecuaristas da cidade de Alta Floresta, estado de Mato Grosso. Constituíram critérios de inclusão: ser pecuarista leiteiro; concordar em ser voluntário na pesquisa; de ambos os sexos; sem distinção de raça, ideologia, religião, etc.
Os dados foram coletados por meio de um questionário estruturado constituído de 26 (vinte e seis) questões, sendo 9 (nove) do tipo múltipla escolha e 17 (dezessete) abertas. Após a coleta, os dados foram tabulados manualmente e compilados em percentuais simples em relação à amostra estabelecida. Em seguida foi utilizado o programa Word para a construção de tabelas.
A pesquisa foi desenvolvida observando-se os devidos critérios éticos, sendo resguardada a identidade dos participantes e os dados coletados utilizados somente para os fins desta pesquisa. Os entrevistados receberam orientações acerca da pesquisa a fim de decidir sobre seu consentimento, sendo assegurada a liberdade aos respondentes em participar ou não da pesquisa.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A tabela 1 mostra o grau de escolaridade dos proprietários entrevistados, sendo que 60,00% (sessenta) completaram o ensino fundamental; 30,00% (trinta) têm ensino fundamental incompleto; 5,00% (cinco) completaram o ensino médio; 5,00% (cinco) têm ensino médio incompleto.

 Tabela 1 – Grau de escolaridade


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

Ensino Fundamental Completo

12

60,00

Ensino Fundamental Incompleto

6

30,00

Ensino Médio Incompleto

1

5,00

Ensino Médio Completo

1

5,00

Ensino Superior

0

0,00

Pós Graduação

0

0,00

Mestrado

0

0,00

Doutorado

0

0,00

Fonte: Autor (2014)

A tabela 2 mostra há quanto tempo os entrevistados trabalham na pecuária leiteira, sendo que 50,00% (cinquenta) trabalham no ramo há mais de vinte e um anos; 35,00% (trinta e cinco) trabalham no ramo de dezesseis a vinte anos; 10,00% (dez) trabalham no ramo de onze a quinze anos; 5,00% (cinco) trabalham no ramo há menos de cinco anos.

Tabela 2 – Há quanto tempo trabalha na pecuária leiteira


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

Acima de 21 anos

10

50,00

De 16 a 20 anos

7

35,00

De 11 a 15 anos

2

10,00

Abaixo de 5 anos

1

5,00

De 6 a 10 anos

0

0,00

Fonte: Autor (2014)

Apesar de 60% (sessenta) dos pecuaristas terem apenas concluído o ensino fundamental, 50% (cinquenta) já estão no ramo há mais de vinte e um anos, com isso, conhecem a pecuária leiteira na prática. Nesses casos, há uma dificuldade na implantação de novas tecnologias tanto pelo fato de terem pouco estudo, como pela insegurança com relação a mudanças.           Crepaldi (2011) afirma que o leite nem sempre será o único produto comercializado pelas fazendas, o que foi comprovado com o resultado desta tabela, que mostra que 65,00% (sessenta e cinco) dos pecuaristas utilizam outras atividades com forma de incremento na renda familiar.

Tabela 3 – Existência de outras atividades agropecuárias na propriedade


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

Sim

13

65,00

Não

7

35,00

Fonte: Autor (2014)

A tabela 4 mostra quais são as outras atividades agrícolas desenvolvidas nas propriedades, sendo que 31,82% (trinta e um, oitenta e dois) desenvolvem também a pecuária de corte; 31,82% (trinta e um, oitenta e dois)  não responderam, ou seja, correspondem aos que não desenvolvem outra atividade; 18,17% (dezoito, dezessete) possuem hortifruti; 13,64% (treze, sessenta e quatro) possuem plantação de cacau; 4,55% (quatro, cinquenta e cinco) desenvolvem também a piscicultura. Ressaltando que nesta questão houve produtores que responderam mais de uma opção.

Tabela 4 – Existência de outras atividades agropecuárias na propriedade


Respostas

Frequência

%

 

22

100,00

Bovinocultura de Corte

7

31,82

Em branco

7

31,82

Hortifruti

4

18,17

Plantio de cacau

3

13,64

Piscicultura

1

4,55

Fonte: Autor (2014)

Com relação à representatividade da renda do leite comparada com as demais atividades agropecuárias desenvolvidas na propriedade, para 35,00% (trinta e cinco), a renda do leite representa entre 61% e 80% da renda total; 35,00% (trinta e cinco) não responderam, ou seja, correspondem aos que não desenvolvem outra atividade; para 15,00% (quinze), o leite representa entre 41% e 60% da renda total; para 15,00% (quinze), o leite representa entre 81% e 100% da renda total, conforme consta na tabela 5. Conclui-se que, apesar da utilização de outras atividades agropecuárias como forma incremento na renda, o leite continua sendo o principal produto comercializado pelas propriedades.

Tabela 5 – Representatividade do leite na renda


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

De 61% a 80%

7

35,00

Em branco

7

35,00

De 41% a 60%

3

15,00

De 81% a 100%

3

15,00

Fonte: Autor (2014)

A tabela 6 mostra a utilização do sistema de rotação de pastagem, sendo que 50,00% (cinquenta) utilizam o sistema e o período de rotação é de um dia; 25,00% (vinte e cinco)  utilizam o sistema, mas com o período de rotação de dois dias; 20,00% (vinte) não utilizam o sistema; 5,00% (cinco) utilizam, mas  com o período de rotação de três a quatro dias.

Tabela 6 – Utilização de sistema de rotação de pastagem e frequência de rotação


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

Sim, 1 dia

10

50,00

Sim, 2 dias

5

25,00

Não é utilizado

4

20,00

Sim, de 3 a 4 dias

1

5,00

Fonte: Autor (2014)

Outro questionamento foi com relação à utilização de suplementação na alimentação das matrizes leiteiras, sendo que 25,00% (vinte e cinco) utilizam sal e ração; 25,00% (vinte e cinco) utilizam sal, ração e silagem; 20,00% (vinte) utilizam ração e silagem; 10,00% (dez) utilizam silagem e sal; 10,00% (dez) não suplementam; 5,00% (cinco) utilizam sal; 5,00% (cinco) utilizam a silagem. Conforme apresentado na tabela 7.

 Tabela 7 – Tipo de suplementações utilizadas


Respostas

Frequência

%

 

20

100,00

Sal e ração

5

25,00

Sal, ração e silagem

5

25,00

Ração e silagem

4

20,00

Silagem e sal

2

10,00

Não utiliza

2

10,00

Sal

1

5,00

Silagem

1

5,00

Fonte: Autor (2014)

Com relação ao sistema utilizado para reprodução, 38,47% (trinta e oito, quarenta e sete) fecundam as matrizes com touros de elite; 30,77% (trinta, setenta e sete) fecundam com touros normais; 15,38% (quinze, trinta e oito) utilizam a inseminação com sêmens convencionais; 15,38% (quinze, trinta e oito) utilizam a inseminação com sêmens secsados, o que pode ser visualizado na tabela 8. Ressaltando que há pecuaristas que utilizam mais de um sistema de fecundação, portanto a frequência foi de 26 respostas.

Tabela 8 – Sistema utilizado para reprodução


Respostas

Frequência

%

 

26

100,00

Touros de elite

10

38,47

Touros normais

8

30,77

Inseminação com sêmens convencionais

4

15,38

Inseminação com sêmen secsados

4

15,38

Fonte: Autor (2014)

Em entrevista com os pecuaristas, foi questionado acerca das principais dificuldades no manejo do gado leiteiro, sendo que 28,00% (vinte e oito) alegaram ser os baixos preços pagos pelos laticínios; 12,00% (doze)  alegaram ser os altos preços pagos pela ração; 12,00% (doze) alegaram ser os altos preços do sal; 8,00% (oito), os altos custos em investimentos com infraestrutura; 8,00% (dez), os altos preços dos sêmens; 8,00% (oito), os altos preços pagos nos remédios; 8,00% (oito) alegaram não ter dificuldades; 8,00% (oito) reclamaram das estradas ruins, o que dificulta a entrega para os laticínios. Os resultados podem ser observados na tabela 9.

 Tabela 9 – Dificuldades na pecuária leiteira para os pecuaristas


Respostas

Frequência

%

 

25

100,00

Baixo preço do leite pago pelos laticínios

7

28,00

Altos preços das rações

3

12,00

Altos preços do sal

3

12,00

Baixo recurso financeiro

2

8,00

Alto custo de infraestrutura

2

8,00

Altos preços do sêmen

2

8,00

Altos preços dos remédio

2

8,00

Não há difiiculdades

2

8,00

Estradas ruins dificultando a entrega

2

8,00

Fonte: Autor (2014)

Outro questionamento foi com relação à utilização de métodos contábeis como forma de manutenção da atividade, sendo que 80,00% (oitenta) utilizam anotações das quantidades de leite tiradas e de datas de nascimento dos bezerros; 10,00% (dez) fazem controle das receitas e das despesas; 10,00% (dez) não fazem nenhum tipo de controle, o que pode ser visualizado na tabela 10.

Tabela 10 – Utilização de técnicas contábeis para manutenção da atividade


Respostas

Frequência

%

 

26

100,00

Anotação de quantidade de leite tirada por dia e data de nascimento dos bezerros para controle de venda e do próximo cio da matriz

16

80,00

Controle de receitas e despesas

2

10,00

Não tem controle

2

10,00

Fonte: Autor (2014)

Foi realizada uma entrevista, com estudo de caso mais abrangente, com o pecuarista de médio porte Sr Cleito Carlesso. Está ativo no ramo da pecuária leiteira há menos de cinco anos, mas sua família já trabalha na atividade há mais de vinte e um anos. Possui outras fontes de renda na propriedade, como a pecuária de corte, onde são alocados os bezerros machos, e hortifruti. A mão de obra é 100% familiar.
Possuem quarenta e uma matrizes leiteiras, que são inseminadas apenas com sêmen secsados, o que lhe dá uma média de nascimento de bezerros de apenas 8% (oito). As bezerras são mantidas na propriedade com a finalidade de futuras matrizes. O leite é tirado duas vezes ao dia, de manha e a tarde, com uma média de 15 litros por dia/por vaca.
A alimentação se dá por meio de sistema de rotação de pasto, com período de rotação de um dia, sal, ração e, no período de estiagem, é incrementada com silagem. A silagem é confeccionada na própria fazenda e o produto utilizado é o milho.
Os seus custos diários para manutenção da atividade são: mão de obra de cinco pessoas, para efeito de cálculo foi utilizado como salário para cada pessoa o valor de R$ 724,00; para manutenção das pastagens é adubado diariamente o piquete utilizado no dia anterior com ureia, é gasto R$ 24,00 por dia; sal e ração para alimentação suplementar durante todo o ano, que totalizam um custo diário de R$ 3,09 por vaca; nos períodos de estiagem, é utilizado a silagem, que tem um custo diário de R$ 1,80 por vaca. Sua receita varia mensalmente, de acordo com o preço pago pelo laticínio pelo litro de leite. Para efeito de cálculo, foram utilizados os valores do último pagamento, R$ 0,82 por litro. Abaixo, as tabelas 11, 12, 13, 14, 15 representam os custos fixos e variáveis, e a renda diária por matiz reprodutora.

Tabela 11 – Custos fixos


Salários dos funcionários

R$ 3.620,00

Adubo

R$ 720,00

Total dos custos fixos mensais

R$ 4.340,00

Fonte: Autor (2014)

Tabela 12 – Custos variáveis em períodos de chuva


Sal e ração

R$ 3.800,70

Total dos custos variáveis mensais

R$ 3.800,70

Fonte: Autor (2014)

Tabela 13 – Custos variáveis em períodos de estiagem


Sal e ração

R$ 3.800,70

Silagem

R$ 2.214,00

Total dos custos variáveis mensais

R$ 6.014,70

Fonte: Autor (2014)

Tabela 14 – Receitas versus despesas em períodos de chuva


Preço do litro de leite

R$ 0,82/litro

(X) Quantidade de leite produzida por mês

18.450 L

(=) Receita bruta mensal

R$ 15.129,00

(-) Custo fixo mensal

(R$ 4.340,00)

(-) Custo variável mensal

(R$ 3.800,70)

(=) Receita líquida mensal

R$ 6.988,30

Receita líquida mensal por matriz

R$ 170,45

Receita líquida por litro de leite

R$ 0,38

Fonte: Autor (2014)

Tabela 15 – Receitas versus despesas em períodos de estiagem


Preço do litro de leite

R$ 0,82/litro

(X) Quantidade de leite produzida por mês

18.450 L

(=) Receita bruta mensal

R$ 15.129,00

(-) Custo fixo mensal

(R$ 4.340,00)

(-) Custo variável mensal

(R$ 6.014,70)

(=) Receita líquida mensal

R$ 4.774,30

Receita líquida por matriz

R$ 188,89

Receita líquida por litro de leite

R$ 0,26

Fonte: Autor (2014)

Realizando o cálculo entre as despesas e receita diária, chegou-se a um resultado de     R$ 0,38 por litro de leite por dia no período das chuvas, e R$ 0,26 por litro de leite por dia no período de estiagem. Considera-se a partir de então que os baixos preços pagos pelos laticínios não se enquadram como a principal dificuldade da atividade, tese apoiada por 28% (vinte e oito) dos pecuaristas (tabela 9).
Em determinado período, devido à falta de produto na indústria, a propriedade ficou sem estoque de ração por um mês, e lembrando que existe um controle diário de receitas e despesas. Neste período, constatou-se uma queda de 80 (oitenta) litros de leite por dia. O leite era tirado de 20 vacas. Quando alimentadas com capim, sal e ração, produziam uma média de 15 (quinze) litros de leite por vaca; com a falta da ração, este valor reduziu para 11 (onze) litros de leite por vaca. Devido à quantidade de matriz ser metade da quantidade atual, onde se utiliza a rotação de um dia por piquete, será considerada a rotação de dois dias por piquete, o que reduz cinquenta por cento do custo com adubo.

Tabela 16 – Receitas versus despesas quando retirada a ração da alimentação


Preço do litro de leite

R$ 0,82/litro

(X) Quantidade de leite produzida por mês

6.600 L

(=) Receita bruta mensal

R$ 5.412,00

(-) Custo fixo mensal

(R$ 3.980,00)

(-) Custo variável mensal

-

(=) Receita líquida mensal

R$ 1.432,00

Receita líquida por matriz

R$ 71,60

Receita líquida por litro de leite

R$ 0,22

Fonte: Autor (2014)

Observa-se na tabela 16 que com a retirada da ração como suplementação na alimentação das matrizes o lucro por litro de leite, se comparado com o calculado anteriormente em períodos de chuva (tabela 14), teve uma redução de 42 % (quarenta e dois). Comprova-se então que, apesar dos custos necessários para implantação de manejos na pecuária leiteira, estes investimentos apresentam grandes retornos, pois aumentam consideravelmente a quantidade de litros de leite retirado por mês.
Com a adoção de métodos simples de contabilidade, como os utilizados acima, seria possível um maior controle dos lucros reais da propriedade para que assim estes possam ser reinvestidos em manejos e novas tecnologias com maior segurança.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 A pesquisa mostra que a insatisfação dos pequenos produtores de leite se deve ao fato principalmente dos baixos preços pagos pelos laticínios. Mas mostra também a falta de investimentos na atividade, estes que poderiam aumentar a produção e assim consequentemente a renda da família.
Estes investimentos não são realizados em uma parcela por receio dos pecuaristas em realizarem investimentos em novas tecnologias ou mudança de alguns métodos e não obterem o retorno esperado, assim como pela falta de recursos disponíveis para sua implantação. Métodos mais simples, como o uso de ordenha, já são utilizado por todos os pecuaristas, mas a suplementação na alimentação, a inseminação com sêmens secsados, diminuindo assim o índice de nascimento de bezerros e aumentado a produção, são utilizados apenas pela minoria.
Observou-se também a falta de controle de receitas e custos diários. Com a utilização de métodos básicos da contabilidade, como as tabelas de custos utilizadas para demonstrar os resultados obtidos em diferentes épocas, e maior controle dos custos fixos e variáveis, consegue-se obter ao final do mês um valor mais preciso da receita líquida obtida.
O contador ainda é visto pelos produtores de pequeno porte apenas como o responsável pela ponte entre contribuinte e Governo. Com a assistência da qual os contadores são capacitados a prestar, podem exercer também o papel de analista de custos e auxiliar na destinação da receita, aumentando o rendimento da fazenda e com isso a lucratividade dos pecuaristas.

DAIRY FARMING IN ALTA FLORESTA: A STUDY OF THE DIFFICULTIES OF SMALL FARMERS

ABSTRACT

This study aims to find alternatives to encourage dairy cattle farmers in the city of Alta Floresta, state of Mato Grosso to remain in the business, by increasing the production and reducing the costs. The methodology used was the literature review and the field study, by applying a structured questionnaire and cost studies in a medium sized property. The research results showed that most of the farmers consider the low prices paid by dairy as the main difficulty of the activity and because of that they end up looking for other sources of income within the property. Despite all available resources for carrying out the management of dairy cattle, large part of cattle ranchers do not invest and, when they invest, it is in small percentages, they believe that the results will not exceed expenditures. With the aid of simple accounting methods it is possible to reach the conclusion that when there are investments there are also meaningful returns.

 Keywords: Accounting. Cattle ranchers. Investments. Management.

REFERÊNCIAS

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CREPALDI, Silvio Aparecido. Contabilidade rural: uma abordagem decisória. 6 ed. revisada, atualizada e ampliada. São Paulo: Atlas, 2011.

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MARION, José Carlos. Contabilidade na pecuária. 9 ed. São Paulo: Atlas, 2010.

MARION, José Carlos. Contabilidade rural: contabilidade agrícola, contabilidade na pecuária, imposto de renda pessoa jurídica. 13 ed. São Paulo: Atlas, 2012.

OLIVEIRA, Neuza Corte de. Contabilidade do agronegócio:  teoria e pratica. 2 ed. Curitiba: Juruá, 2011.

Pecuária leiteira no Estado de Mato Grosso. Disponível em: <http://www.cidades.ibge.gov.br/> Acesso em 19 de abril de 2014.


Acadêmica no curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Alta Floresta (FAF)

2 Docente do curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Alta Floresta (FAF)

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