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A ENTREVISTA NO TRABALHO JORNALÍSTICO: A TEORIA E A PRÁTICA
DOS PERIÓDICOS NA AMAZÔNIA

Flaviane Mônica Christ
Leozil Ribeiro de Moraes Júnior

RESUMO
O presente estudo busca discutir as diferentes definições para a entrevista, no trabalho jornalístico. Para tanto, partimos dos autores clássicos do estudo do jornalismo no Brasil: Luiz Beltrão, Mario Erbolato, Cremilda Medina e Luiz Amaral. O texto discute as classificações quanto, aos entrevistados, aos entrevistadores, ao conteúdo e a noção de entrevista enquanto diálogo, possível de captar os sentidos atribuídos ao real. Após a discussão teórica, seguimos para uma análise desta prática jornalística presentes nos periódicos na Amazônia: Mato Grosso do Norte e O Diário, de Alta Floresta/MT. Ambos os jornais possuem dez páginas, mas poucas destas laudas são impressas com conteúdos produzidos pelas redações dos jornais. Somente cinco ou seis matérias são apuradas pelos repórteres a cada edição, as demais são enviadas pelas assessorias de imprensas da prefeitura e grandes empresas da região ou retiradas de sites da internet. Assim, quando as notícias são produzidas seguem o padrão: quanto aos entrevistados/individual, aos entrevistadores/pessoal e ao conteúdo/informativa. Porém, não aparece em nenhum momento, de ambos os jornais, a noção de entrevista enquanto diálogo, como enfatiza Cremilda Medina, no sentido do gênero jornalístico possibilitar que as contradições sociais, presentes no vivido, sejam também parte constituinte e constituidora da prática dos periódicos na Amazônia.
Palavras-chave: Entrevista. Teoria. Prática. Jornais. Amazônia.

ABSTRACT
The present study aims to discuss the different definitions for the interview in journalistic work. For this, we started from classical authors of the study of journalism in Brazil: Luiz Beltran, Mario Erbolato, Cremilda Medina and Luiz Amaral. The paper discusses the classifications regarding the interviewees, the interviewers, the content and the notion of interview as dialogue, possible to capture the meanings attributed to real. After the theoretical discussion, we proceeded to analysis of the journalistic practices present in periodicals in the Amazon: Mato Grosso do Norte and The Diary of Alta Floresta/MT. Both newspapers have ten pages, but only few of these pages are printed with contents produced by the editorial offices. Only five or six matters are verified by reporters every edition, the others are sent by press officers of the city hall and of large companies in the region or taken from internet sites. So when news are produced they follow the standard: regarding the interviewees/individual, the interviewers/staff and content/information. However, do not appear in any moment of both newspapers the notion of interview as a dialogue, as emphasizes Cremilda Medina,  in the sense of the journalistic genre enable that the social contradictions,  present in living, also are part of the constituent and constituted of the practice of periodicals in the Amazon.
Keywords: Interview. Theory. Practice. Newspapers. Amazon.

1. INTRODUÇÃO
           
O trabalho do jornalista precisa ser entendido e praticado com responsabilidade. E a entrevista necessita ser vista com uma das principais ferramentas do trabalho jornalístico. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivos: Discutir as noções de entrevista que permeiam as práticas jornalísticas. Analisar como as entrevistas se fazem presente nos jornais na Amazônia: Mato Grosso do Norte e O Diário. Vamos estudar as edições nº 3929, nº 3939 nº 3936 de O Diário. E as edições nº 1828 nº 1832 nº 1834 de o Mato Grosso do Norte.
A problemática da pesquisa segue o seguinte questionamento: Quais são as principais classificações sobre entrevista presentes nos veículos impressos de Alta Floresta/MT. E a hipótese parte do seguinte entendimento: É que devido à complexidade da realização de uma entrevista em profundidade, elas têm servido somente para levantamento primário de informações e os jornalistas não buscam entender as contradições sociais que o entrevistado pode declarar.
Este artigo se justifica porque o trabalho de entrevista é uma das principais ferramentas do trabalho jornalístico. Ela ajuda revelar e desvendar situações que muitas vezes os próprios documentos escondem. Por isso, a fala do entrevistado deve ser entendida com necessário para a boa apuração jornalística. Os depoimentos esclarecem, mas também escondem muitas situações, por isso é preciso entender os gestos, a entonação da voz e principalmente os silêncios. Quando há a opção de não falar é preciso investigar, pois o silêncio é tão revelador quanto um discurso bem organizado. Por isso, precisamos encontrar nossas fontes e ouvir o que elas têm para nos dizer.

2. AS TEORIAS DA ENTREVISTA NO BRASIL

A entrevista consiste em perguntas e respostas. É uma das principais ferramentas do trabalho jornalístico. Para Medina (1987, p. 104), é a linguagem do diálogo e pertence à etapa do pleno exercício do direito à informação, do direito ao acesso de canais de participação.
Para Amaral (1982, p. 125), a entrevista significa o “encontro com alguma pessoa com a finalidade de interrogá-la sobre seus atos e ideias. Conjunto de declarações de pessoa de destaque dá a um jornalista com a autorização para publicá-las”. O jornalista Armando Nogueira define como “uma forma de dialogada de desfilar ideias” (CRIPA, 1998, p.15).
A entrevista pode se dar em dois momentos do trabalho jornalístico: no processo de apuração junto à fonte e como uma matéria publicada. Para Medina, o segundo exige maturidade e competência técnica, mas “enquanto gênero pode representar também um espaço de inovação na linguagem jornalística” (1987, p. 105).
Para Nilson Lage (2004, p. 73), a entrevista também possui sentido amplo no trabalho jornalístico: “Qualquer procedimento junto a uma fonte capaz do diálogo. Uma conversa de duração viável com personagem notável ou portador de conhecimento ou informação de interesse para o público. A matéria publicada com as informações colhidas”. Ou seja, ela deve ser base para apuração de informações para a matéria jornalística, mas ela pode também ser publicada como um gênero, desse modo, como as famosas páginas amarelas da revista Veja.
Lage (2004) tipifica as entrevistas de acordo com os objetivos e às circunstâncias. Quanto aos objetivos: ritual, temática, testemunhal, em profundidade. A ritual busca mais o registro da voz do que as informações que a fonte tem para dizer. É breve e geralmente realizada com jogadores, técnicos. A temática ocorre quando o entrevistado tem autoridade para discorrer sobre um tema com profundidade. A testemunhal é um relato sobre o fato que o entrevistado participou ou que teve acesso. Em profundidade, o entrevistado se torna a figura mais importante, e a forma com constrói a representação do mundo.
Já quanto às circunstâncias de realização da entrevista Lage (2004) aponta: ocasional, confronto, coletiva e dialogal. Ocasional: é uma entrevista que não teve um agendamento prévio. É geralmente feita com políticos. Confronto: o entrevistador assume a função de questionador, inquisidor. Coletiva: quando o entrevistado responde a questões de vários repórteres de diferentes veículos. Dialogal: quando permite um aprofundamento e detalhamento dos pontos abordados entre o entrevistador e entrevistado.
Nesse sentido, a entrevista temática é chamada de conceitual ou especializada por Medina (1987, p. 105). A entrevista de ritual é também conhecida como de ocasião, por Armando Nogueira, essa classificação tem limitação quando as perguntas e respostas devido ao tempo (CRIPA, 1998, p. 15). A entrevista enquanto um gênero jornalístico informativo tem muitas contribuições como aponta Medina (1987), porém o método utilizado, de pergunta e resposta e quem diz, no jornalismo cotidiano, é considerado mais importante que as informações que a pessoa pode transmitir.
Assim, Luiz Beltrão (1969, p. 177) classifica a entrevista de modo geral em: rotina e caracterizada. A de rotina é aparece na notícia “sem referência ao entrevistado ou com referência não específica”. A entrevista caracterizada é a reprodução da fala dos entrevistados, que são nomeados no texto. Esta modalidade é a mais estudada por Beltrão, ele a decompõe morfologicamente. Em referência ao aspecto formal se divide quanto ao entrevistado: individual ou de grupo (que se subdividem em enquete e pesquisa). Ou seja, é referente ao número de entrevistados, um ou vários. Quanto ao entrevistador: exclusiva e coletiva, portanto a primeira são informações dadas a um único jornal e a coletiva participam vários veículos.
Quanto ao conteúdo da entrevista ela é definida por Beltrão (1969) como: informativa, opinativa e ilustrativa. A primeira é mais comum, busca o relato de fatos, testemunha de eventos. A opinativa destaca a opinião de uma pessoa que conhece o assunto que está em discussão em controvérsia, para buscar esclarecimentos. Já a ilustrativa é mais entretenimento, busca enfatizar momentos da vida dos artistas, pessoas conhecidas no âmbito social.
Mario Erbolato (1979) trabalha com a mesma classificação sob quatro aspectos de Luiz Beltrão (1969):
Como geradoras de matéria jornalística: de rotina, e caracterizada. Quanto aos entrevistados: individual, e de grupos (enquête e de pesquisa). Quanto aos entrevistadores: pessoal (ou exclusiva) e coletiva (podendo a última se subdividir-se em conferências e pool). Quanto ao conteúdo: informativas, opinativas, ilustrativas ou biográficas. (ERBOLATO, 1979, p. 139)

A entrevista individual é quando somente um jornalista consegue acesso a uma fonte, que se aproxima muito da exclusiva. A entrevista que mais exige do jornalista é a exclusiva, por isso ele deve estar bem preparado, estudar o assunto, formular questões previamente, pois a pessoa pode falar muito como absolutamente nada, explica Luiz Antonio Mello (1996, p. 53). O jornalista Armando Nogueira dá a dica de tentar conhecer ao máximo o entrevistado para um bom diálogo (CRIPA, 1998, p.15). A enquete jornalística é a amarração do tema, ou seja, perguntas rápidas para um grupo de pessoas com o objetivo de finalizar uma abordagem jornalística. Já a pesquisa visa esclarecer informações junto ao público e com ajuda de um especialista. As entrevistas “coletivas oportunas” são fabricadas por assessorias e passivamente aceitas pelos jornalistas, assim defende Medina (1987, p. 105).
Já Paul Chantler e Sim Harris (1998, p. 100) ao falarem sobre o rádio dividem as entrevistas em três tipos: a informal, interpretativa e emocional. A informal tem como objetivo a busca por novidades, por “revelar fatos ou informações”. A interpretativa difere pela necessidade de interpretação de “fatos que já são conhecidos do público”. A entrevista emocional é a mais difícil de ser realizada por trabalhar com momentos delicados emocionalmente, por exemplo, quando uma mãe perde um filho, quando um esportista bate um recorde.
Para os autores, há ainda as entrevistas especiais: entrevistas ao vivo, “o povo fala”, entrevistas coletivas e estúdios externos. Ao vivo é preciso ser rápido, as perguntas devem ser simples.  “O povo fala” são entrevistas realizadas nas ruas com o povo, muito parecidas com a de grupo (enquete) de Luiz Beltrão (1969). A entrevista coletiva, próxima à definição de Beltrão, ocorre quando há uma movimentação grande de vários jornalistas e diferentes veículos. Já de estúdios externos, quando tanto o entrevistado quanto entrevistador estão em locais distantes, e assim é transmitido para a emissora as perguntas e respostas feitas.
Luiz Amaral (1982, p. 126), também pontua sobre as modalidades de entrevistas: noticiosa, opinativa e atualidade. A noticiosa é ocorre quando o entrevistado tem informações é questionado sobre elas. A opinativa busca especialista para esclarecer sobre temas em debate. A atualidade busca esclarecer sobre gostos, anseios e preferências dos entrevistados. Assim, definições de Amaral (1982) para entrevistas noticiosa, opinativa e atualidade se aproximam das considerações de Beltrão (1969) e Erbolato (1979) sobre a informativa, opinativa e ilustrativa. Do mesmo modo, a noticiosa de Amaral e a informativa de Beltrão e Erbolato se configuram próximas da informal de Paul Chantler e Sim Harris (1998, p. 100).
Portanto, a dificuldade de saber de um entrevistado algo novo e interessante é um grande desafio para o jornalista. Hoje essas questões são barradas pelas assessorias de imprensa que sempre tentam contar as causas de maneira que amenize os efeitos e também porque as pessoas fogem do assunto, com outras direções, e não se comprometem com a verdade dos fatos.
A forma clássica da entrevista, pergunta e resposta frente a frente com a fonte, não tem sido a melhor forma de a imprensa descobrir uma boa informação, isso atualmente acontece com aparatos técnicos. Gravações são as maneiras de garantir uma novidade jornalística, porém válidas somente com autorização judicial.
Quando se fala em perguntas mais reflexivas e críticas existem métodos diferentes para conseguir respostas importantes. Para Nogueira a entrevista “deve ser franca, tem que ser uma conversa respeitosa e tem que ser sempre pensando no interesse da coletividade, e não no sucesso pessoal” (CRIPA, 1998, p.18). Contudo Alexandre Garcia (TRAMONTINA, 1996, 23) relata que o jornalista deve fazer uma pergunta, e com base nessa resposta deve argumentar de maneira eficiente, para conseguir o que deseja.
Contudo, quando um repórter pergunta algo para sua fonte e essa se recusa a responder, o questionamento e a argumentação são suspensos, pois vai abalar a fonte e ela vai se recusar a dar futuros depoimentos, em outras entrevistas.  Porém, “é preciso deixar o entrevistado pensando que é ele quem manda, é ele a pessoa mais importante naquele momento. Estando à vontade, vai dizer as coisas sem notar”, afirma Alexandre Garcia (apud TRAMONTINA, 1996, p. 25).
Vem da televisão um exemplo que aconteceu em 2003, em uma entrevista coletiva. O canal de TV Bandeirante transmitia aos domingos o programa Canal Livre, e em janeiro os jornalistas entrevistaram a embaixadora do EUA no Brasil. Depois de várias perguntas, para deixar a entrevistada à vontade, o jornalista Roberto Cabrini a indagou sobre como o governo americano trabalhava a internacionalização da Amazônia. E ela nervosa disse que a Amazônia é do Brasil e que o governo americano não debate essa questão. Então, Cabrini argumentou que todos os moradores da Amazônia sabem e discutem este problema, como os americanos poderiam não conhecem esse tema. Ela simplesmente ficou em silêncio e não detalhou o assunto.
Deixar o entrevistado à vontade não é suficiente para retirar dele falas reveladoras. Se o jornalista, por exemplo, entrevistar o ministro da educação para falar do ensino, muito bem, pois tem todo um discurso bem preparado. No entanto, se alguma pergunta sobre a Reforma Universitária surgir esse já não vai estar mais tão à vontade assim. Complicado fica quando o jornalista tem em mãos dados e documentos que comprovam que é uma reforma que vem em nome do liberalismo econômico, do Banco Mundial, e não vai resolver a questão qualidade da educação no Brasil, mas sim gerar mais lucros para as grandes empresas do ensino. E assim, surge uma pergunta questionadora quanto a esse processo. Por mais que o ministro seja de um partido que tem em sua base o melhoramento do ensino público ele vai defender a Reforma. Naquele momento o ministro fazia parte do processo, e a retórica estava bem preparada, por mais que ele saiba que não seria bom para o povo brasileiro.
Assim, ao observar o trabalho dos jornalistas no jornal O Paraná, em Cascavel em 2004, o jornalista, Miguel Portela, que era responsável pela editoria local, assume que nenhuma pessoa, em entrevista, vai se acusar. Por isso, ele argumenta que o bom jornalista antes de publicar a matéria deve correr atrás de outras fontes que possam comprovar a denúncia que o profissional tenta fazer, contudo isso exige muito tempo e cuidado para o veículo não perder a credibilidade. Mas, se a revelação da informação for relacionada com um anunciante, quem vai decidir é o dono do veículo.
Por isso, o entrevistado quando questionado tende a não revelar alguns dados, porque as fontes, como os donos dos meios de comunicação, também se preocupam com o domínio e o lucro, e ao revelarem a verdade sobre tudo o que pensam e fazem a população teria argumentos para questionar.
Imperativos sociais, econômicos, religiosos, profissionais fazem com que aqueles que têm muito a dizer e contas a prestar à comunidade se neguem a falar publicamente, temerosos dos efeitos que suas palavras possam causar no meio em que vivem. Medo de uma tomada de posição aberta, clara, diante do mundo (AMARAL, 1997, p.126).

A importância da entrevista é evidente para que um bom jornalismo possa ser realizado, até por causa da credibilidade. Mas é necessária a utilização de outros métodos, que não agradam o leitor diário preocupado com a informação rápida, porque exigem mais tempo e capacidade de dedicação do profissional, como a pesquisa, observação e a investigação. Essas opções vêm para complementar à entrevista, para não deixar que a informação – em consequência a população - dependa simplesmente da pergunta de um entrevistador ou da resposta de um entrevistado.
Por isso, vale a pena retomar as considerações de Cremilda Medina sobre entrevista, no sentido que essa prática, precisa ser entendida como um “diálogo ou plurálogo”. “A linguagem do diálogo pertence à etapa do pleno exercício do direito à informação, do direito ao acesso de canais de participação” (MEDINA, 1987, p. 104). Nesse sentido, falta ao jornalismo uma busca por entender os sentidos presentes no processo dialógico, porque a técnica não é difícil de aprender, mas é preciso aplicar e enfatizar o caráter humano das relações não somente a técnica. A “humanização” ainda é necessária.

3. A PRÁTICA DA ENTREVISTA NOS JORNAIS NA AMAZÔNIA

Vamos analisar como os jornais de Alta Floresta empregam as entrevistas em suas publicações. A partir das definições anteriores, buscaremos entender como a prática da entrevista pode ser apreendida através do material que chega ao público leitor. Para tanto vamos focalizar nas classificações quanto aos entrevistados (individual, e de grupos), entrevistadores (pessoal e coletiva) e conteúdo (informativas, opinativas, ilustrativas) de Luiz Beltrão e Mario Erbolato e Cremilda Medina no sentido da entrevista como diálogo. 
Vamos analisar dois diferentes jornais que nos chegaram às mãos por meio da bibliotecária da Faculdade de Alta Floresta. Os jornais: Mato Grosso do Norte e O Diário. Serão analisadas três edições a que tivemos acesso, que são da quarta-feira, dia 03 de setembro de 2014, sexta-feira, 12 de setembro de 2014 e da quarta-feira dia 17 de setembro de 2014. Ambos são periódicos que circulam na Amazônia. No município de Alta Floresta e região, no Estado de Mato Grosso.
O jornal O Diário não apresenta claramente quem é o diretor, mas dá destaque, no expediente, ao nome de Altair Nery. A periodicidade é diária e o tamanho A3. As editorias também não são divididas claramente, porém os assuntos abordados nas dez páginas são: opinião política, esporte, policial, atualidades e social. Ele publica edital, de modo que as páginas quatro e cinco da edição de sexta-feira, 12 de setembro de 2014, estão completas por eles. Há também uma série de matérias de assessorias, não só da prefeitura municipal, mas de diferentes empresas, como da Companhia Hidrelétrica Teles Pires. Ou seja, se o jornal produziu no máximo cinco matérias e tem dez páginas significa que o restante, retirando o esporte e a página social, são notícias provenientes de assessorias e da internet. Isso fica muito claro na leitura do jornal.
Portanto, restam poucos espaços para publicações de entrevistas de âmbito local, produzidas pelo próprio veículo. Analisaremos somente as notícias que tem indicativos que foram produzidas pelo jornal, ainda que nem todas possuam clareza nesta informação. Na edição nº 3929, 03 de setembro de 2014, ano XV, temos cinco matérias, com exceção das notícias sobre esporte que não foram analisadas por falta de indicação de quem produziu o material.
Primeira notícia: “Estacionar em qualquer lugar pode gerar dor de cabeça e pesar no bolso dos motoristas”: individual, pessoal, informativa. Segunda notícia: Atravessar a rua pela faixa de pedestre é mais adequado e responsável: não trabalha com entrevista, com base em observação e no Código de Trânsito Brasileiro. Terceira notícia: Sessão da Câmara, vereadores das bases mostram trabalhos que estão sendo feitos pela Administração: individual, coletiva, informativa e opinativa. Quarta notícia: Menor ameaça tio com pedaço de madeira. Após discussão com a própria mãe: feita com base no boletim de ocorrência.  Quinta notícia: Moto é furtada em estacionamento de mercado no Bom Pastor: realizada a partir do boletim de ocorrência.
Na edição nº 3936, 12 de setembro de 2014, ano XV temos quatro notícias. Primeira notícia: Relojoaria é assaltada no centro de Alta Floresta - individual, pessoal, informativa. Segunda notícia: Polícia age rápido e prende suspeitos de participação em assaltos, inclusive em relojoaria, eles negam - individual, pessoal, informativa. Terceira notícia: Com direito a bolo e “parabéns pra você” escola Vovó Alice da Apae faz aniversário - individual, pessoal, informativa. Quarta notícia: Van roubada em SP estava em AF, mas rastreadores do veículo proporcionou sua localização: individual, pessoal, informativa.
Na edição nº 3939, 17 de setembro de 2014, ano XV temos duas notícias. Primeira notícia: Câmara se reúne para mais uma sessão ordinária - individual, coletiva, informativa e opinativa. Segunda notícia: MT 208 registra mais um acidente, desta vez envolvendo dois caminhões - individual, grupos, pessoal e informativa.
Já o jornal Mato Grosso do Norte é publicado desde 1996. Tem como diretor e editor responsável: José Vieira do Nascimento. A periodicidade é segunda, quarta e sexta-feira. Tem tamanho A3 e é composto por 10 páginas, dividias entre opinião, política, atualidades, social e economia.
O jornal Mato Grosso do Norte publica uma série matérias da assessoria de imprensa da prefeitura de Alta Floresta, na edição n 1828, de quarta-feira, dia 03 de setembro de 2014, nas páginas quatro, cinco e seis, havia quatro publicações que indicavam serem feitas pela assessoria da prefeitura. Nas páginas oito até 13 os nove textos são retirados da internet, de sites como Bolsa Mulher e Minha Vida. Porém, em algumas matéria não há indicação, mas o texto “Bitucas de cigarro ameaçam à saúde e ao meio ambiente” é encontrado facilmente no site “Saúde Humana” de Teresina Piauí, que cita que foi retirado do “O Globo”.
Assim, na edição nº 1828 quarta-feira dia 03 de setembro de 2014, são seis notícias. Primeira notícia: Onda de violência assusta em Peixoto e vereadores cobram providências: Grupos, coletiva e opinativa. Segunda notícia: Blairo faz alerta sobre Marina Silva - individual coletiva, opinativa. Terceira notícia: Consórcio vai faturar R$ 71 milhões para supervisionar provas do Detran - individual, pessoal, informativa.  Quarta notícia: ONG Recriar Brasil implanta programa para coleta de lixo sólido - individual, pessoal, informativa. Quinta notícia: Em Mato Grosso, 86, 4 mil meninas devem receber a segunda dose da vacina contra HPV - grupo, coletiva, informativa. Sexta notícia: Prefeitura lança asfalto no Assentamento São Pedro - individual, pessoal, informativa.
Na edição nº 1832 de sexta-feira dia 12 de setembro de 2014, tem apenas uma notícia. Outras matérias e artigos eram de escritores nacionais como Thiago Vinholes, repórter da Carro Online, e Ricardo Meier, Jornalista, editor do site iG Carros e editor especial do Blogauto. Primeira notícia: Prefeitura lança obra de quadra de esportes da Escola Cristo Redentor – não há entrevistas, isso indica que o texto tem características de um release de assessoria.
Na edição nº 1834 quarta-feira dia 17 de setembro de 2014, existem três notícias produzidas pelo jornal. Primeira notícia: Secretário diz que em nenhum lugar do Brasil os médicos trabalham 40 horas - individual, pessoal, informativa. Segunda notícia: Projeto que altera lei de metragem de lotes urbanos está tramitando na Câmara - individual, pessoal, informativa, opinativa. Terceira notícia: Queimadas continuam proibidas até 30 de setembro - individual, pessoal, informativa.
O que mais é possível identificar, em ambos os jornais, quanto aos entrevistados é a classificação individual. Quanto aos entrevistadores: a pessoal. E quanto ao conteúdo são as informativas. O que é interessante perceber que há notícias sem entrevistados, algo quase inconcebível para um bom trabalho jornalístico. E que o diálogo, enquanto busca de humanização ela não aparece em nenhuma vez, o que sempre está em evidência é a busca pela informação, e não os sentidos e significados que as pessoas buscam construir no vivido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É praticamente impossível pensar apuração jornalística sem entrevista, pois a notícia se sujeita à regra da credibilidade ao ter que citar as fontes (aspas e disse ele).  No entanto, essa não é a maior dificuldade, pois com equilíbrio o crédito, o nome do repórter, é necessário no jornalismo. O grande problema acontece, quando o profissional da comunicação, se submete as próprias fontes. Essas que são, essencialmente, sempre as mesmas devem ser tratadas com educação, respeito, humildade, mas não devem os jornalistas trabalhar com a vaidade dessas, pois assim, o jornalismo deixa de fazer seu papel fundamental, que seria dar informações, que mudam de alguma forma o cotidiano das pessoas. Assim, fica evidente esse trabalho com excesso de publicações de matérias de assessorias de imprensa.
A entrevista tem que se renovar enquanto um gênero jornalístico. Profissionais usam esse método de investigação, mas buscam através dela saber somente o que a pauta ou o senso comum determinam. Aquilo que já foi dito e é repetido a todos os minutos por várias entrevistas que foram vistas, ouvidas e lidas todos os dias. Portanto, a informação, “esse sistema que deveria, mais do que qualquer outro, contribuir para a homeostase social, caiu diretamente nas mãos daqueles que se preocupam acima de tudo com o poder e o dinheiro”, destaca Nobert Wierne (ARMAND & MICHÈLE MATTELART, 2000, p. 66). Ou seja, precisamos buscar espaços para superarmos esta dominação, assim partiremos para um jornalismo como construtor de outra realidade, menos injusta para a maioria da população.
Por conseguinte, é interessante analisar que tanto o jornal O Diário quanto o Mato Grosso do Norte trabalham com entrevistas que visam apurar informações jornalísticas, contudo é preocupante quando pensamos que existem notícias em que a entrevista não teve como base da apuração. E ainda, que dentre as dez páginas, de ambos os jornais, podemos identificar no máximo seis matérias produzidas pela redação. Com exceção das notícias sobre esporte que não foram estudadas por falta de identificação de quem as fez. Deste modo, os jornais têm completado suas páginas com matérias que são encaminhadas pelas assessorias, tanto O Diário quanto o Mato Grosso do Norte, e captadas na internet, principalmente o Mato Grosso do Norte. Isso dificulta pensar no jornalismo crítico, capaz de entender os contraditórios sentidos do vivido.

REFERÊNCIA

AMARAL, Luiz. Jornalismo matéria de primeira página. Editora Tempo Brasiliense: São Paulo; 1982.

BELTRÃO, Luiz. A busca da informação: A entrevista. In: A imprensa informativa. Ed. Folco Masucci. São Paulo, 1969.

CHANTLER, Paul & HARRIS, Sim. Entrevistas. In: Radiojornalismo. Summus Editorial: São Paulo, 1998.

CRIPA, Marcos. Entrevista e Ética uma Introdução. Editora Educ: São Paulo, 1998.

ERBOLATO, Mário. Técnicas de Codificação em Jornalismo. Editora Ática: São Paulo, 1979.

MELLO, Luiz Antonio. Manual de Sobrevivência do Jornalismo. Editora Casa Grande Editorial: São Paulo, 1996.

MATTELART, Armand e Michèle. História das Teorias da Comunicação. Edições Loyola: São Paulo, 2003.

MEDINA, Cremilda. Entrevista. In: MELO, José Marques (org). Gêneros Jornalísticos na Folha de São Paulo. Editora FTD: São Paulo, 1987.

TRAMONTINA, Carlos. Entrevista. Editora Globo: Rio de Janeiro, 1996.

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2004.

Jornalista, Historiadora e Mestre em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Professora no curso de jornalismo na Universidade Estadual do Estado de Mato-Grosso (UNEMAT) e no curso de pedagogia na Faculdade de Alta Floresta (FAF). Vice-coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE) na Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). E-mail: flaviane@hotmail.com

Jornalista, Historiador e Mestre em História pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). Professor no curso de jornalismo na Universidade Estadual do Estado de Mato-Grosso (UNEMAT) e no curso de pedagogia na Faculdade de Alta Floresta (FAF). Vice-coordenador do Programa de Iniciação Científica da Faculdade de Alta Floresta (FAF). E-mail: leozil@bol.com.br

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